Junta de Freguesia de Tentúgal Junta de Freguesia de Tentúgal

Enquadramento Histórico

Tentúgal foi palco, no passado, de acontecimentos históricos de grande relevância para Portugal. Neste sentido, grande parte dos monumentos que compõem, atualmente, o acervo histórico de Tentúgal é contemporânea dos séculos XIV e XV, épocas em que viveu o infante D. Pedro, regente do Reino de Portugal, fruto da relação entre D. João I, mestre da ordem de Aviz, e D. Filipa de Lencastre (Município de Montemor-o-Velho, s/d).

Grande parte da história de Tentúgal começa a ser escrita, por volta de 716, ano que assinala a invasão e consequente ocupação, pelos árabes, de terras que pertenciam, até essa altura, aos Visigodos, nomeadamente Coimbra, Montemor-o-Velho e Tentúgal (Góis, 2001).

Em 1064, Fernando Magno, rei de Leão e de Castela, conquistou definitivamente a linha do Mondego. A partir desta altura, dá-se início à criação de um novo condado em Coimbra, cujo governo foi concedido a D. Sesnando, que decide ordenar a restauração e povoação de Tentúgal (Góis, 2001).

A mais antiga referência documental a Tentúgal data do ano de 980. Nos séculos X e XI, andou em poder, ora de muçulmanos, ora de cristãos, até que, em 1034, foi reconquistada aos mouros, por Gonçalo Trastamires, aquando da tomada de Montemor-o-Velho (Município de Montemor-o-Velho, s/d).

Em 1108, Tentúgal recebeu carta de foral, passada pelos condes D. Henrique e D. Teresa, tendo esta última confirmado o mesmo, no ano de 1124. Contudo, só um século mais tarde, no reinado de D. Afonso III (1210 – 1279) se voltaria a ter uma referência a Tentúgal (Monteiro, 2013).

Em 1265, o rei D. Afonso III outorga carta de aforamento aos habitantes da Póvoa de Santa Cristina, determinando as rendas (linho, pão). No ano de 1286, D. Dinis impõe nova carta de foro à povoação.

Já no século XIV, D. Fernando I (filho de D. Pedro I, neto de D. Afonso IV), notabilizou-se por ter sido a figura régia que mais tempo permaneceu em Tentúgal, onde viria, em 1367, a confirmar os foros da vila (Monteiro, 2013).

Em 1417, D. João I atribuiu ao seu segundo filho, o Infante D. Pedro, então duque de Coimbra, as vilas de Tentúgal, Pereira, Cernache e Condeixa. A partir desta altura, Tentúgal começa a ganhar uma maior notoriedade, especialmente na região do Baixo Mondego. É, precisamente, nesta época que o mesmo Infante ordena a construção do Paço localizado no exterior da Vila, o Convento de S. Francisco e a ermida, situados, ambos, na localidade de Póvoa de Santa Cristina, os primitivos Paços do Concelho, pertencentes ao estilo gótico (dos quais só resta a Torre do Relógio) e a reconstrução da Igreja Matriz. Existem, ainda, investigadores que defendem que o Infante D. Pedro terá contribuído para a reconstrução do Paço de D. Sesnando, tendo situado, aí, as suas estrebarias (Monteiro, 2013).

El-Rei D. João I doou a vila de Tentúgal, inclusive a Póvoa, ao seu filho D. Pedro, que, por sua vez, doou a Póvoa aos frades franciscanos para ali construírem um convento. De uma forma mais simples, fundaram um pequeno Oratório, no monte que passaria a ser designado de Monte de Santo Onofre. Posteriormente, nasceu o convento, que foi aumentando de dimensão. Aqui, nasceu um filho de sua majestade. Frei João da Póvoa, humilde servo, confessor de D. João II, obteve a Póvoa e, da parte deste rei, obteve prerrogativas de Vila, descritas nas crónicas dos franciscanos.

Em 1504, D. Manuel I elevaria a vila de Tentúgal a cabeça de condado. Foi, no entanto, preciso esperar até 20 de dezembro de 1515 para que o mesmo rei outorgasse um terceiro foral a esta vila (Cunha, 2016 & Monteiro, 2013). Neste documento, a Póvoa de Santa Cristina seria privilegiada.

No início do século XVI, a comunicação terrestre em Tentúgal era dinamizada pela atividade dos almocreves que criavam uma circulação interna, complementando o comércio fluvial e marítimo. Tentúgal, Montemor-o-Velho e Soure seriam pontos fundamentais nesta rede de comunicação, articulando, com o polo de Coimbra, um conjunto de vias de transporte (Monteiro, 2013).

Tentúgal destacar-se-ia no século XVI, também, pela produção de linho, produto que partia do porto de Buarcos até Guimarães, Lisboa e Norte da Europa. Sendo uma época caracterizada pelos Descobrimentos Portugueses, houve uma personalidade que contribuiu para o sucesso deste projeto. Essa figura foi Pedro Reinel, conhecido viajante e mais antigo cartógrafo português proveniente de Tentúgal (Monteiro, 2013).

A grandeza e importância da Vila de Tentúgal fez com que se desse início à construção do Convento das Madres do Carmo, provavelmente tendo o período de 1560-1565 como referência temporal. Esta construção deu-se a partir dos sobejos da Confraria de São Pedro e São Domingos. O convento mencionado é considerado por investigadores como o maior e mais prestigiante empreendimento de toda a história da vila, que chegou a envolver plebeus e nobres, e trouxe religiosas de todas as partes do país. Atualmente, continua a ser o maior símbolo da riqueza deste território (Monteiro, 2013).

O século XVI seria marcado por um período de desenvolvimento socioeconómico, um reflexo da campanha produtiva dos Descobrimentos, bem como em virtude da paz e estabilidade que se vivia na altura. Um exemplo desses valiosos contributos foi a introdução da cultura do milho americano no Baixo Mondego, permitindo, assim, a melhoria das condições de vida das populações (Cunha, 2016 & Monteiro, 2013).

O século XVI foi, igualmente, marcado pelo movimento de Contra-Reforma, que produziu um largo investimento na construção de templos, fato explicado pelo crescente aprofundamento da Fé, pelo desejo de enobrecimento, numa sociedade definida por regras sociais rígidas e por dogmas pré-estabelecidos, bem como pela necessidade de garantir alguma proteção e imunidade face à ameaça da Inquisição. Neste sentido, um maior número de pessoas instituiu capelas públicas ou privadas no interior das igrejas paroquiais. Já no caso das famílias mais abastadas, a construção foi feita nas suas próprias residências (Cunha, 2016 & Monteiro, 2013).

Após longos anos de estabilidade política, a partir do início do século XIX, Tentúgal foi intensamente marcada pelas invasões francesas. Com efeito, em 1810, as tropas do general Massena, após a entrada em Coimbra, dirigiram-se a Tentúgal, tendo saqueado e destruído tudo o que encontraram (Cunha, 2016 & Monteiro, 2013).

Por sua vez, em 1834, com os decretos que determinam a extinção dos mosteiros e conventos, Tentúgal veio a perder um dos seus motores de desenvolvimento, o Mosteiro de Nossa Senhora do Carmo que, a partir de então, ficaria condenado à degradação e ao esquecimento (Cunha, 2016 & Monteiro, 2013).

A Póvoa de Santa Cristina albergou os Paços de Concelho, o hospital, provavelmente a Misericórdia, o Pelourinho (datado do século XVI), sendo lugar de freguesia e concelho, categorias, entretanto, extintas. Foi, mais tarde, anexada a Tentúgal, a partir de 1842.

Em 1853, Tentúgal perde o seu estatuto de Concelho, passando, a partir de aqui, a integrar o concelho de Montemor-o-Velho. Esta ação foi executada pelos liberais, por decreto régio de D. Pedro V, datado de 31 de dezembro desse mesmo ano. A partir de então, as freguesias de Lamarosa, de São Martinho de Árvore e de São Silvestre passaram a integrar o concelho de Coimbra, sendo que as freguesias de Tentúgal e de Meãs do Campo passaram para o concelho de Montemor-o-Velho, aonde pertencem, nos dias de hoje (Cunha, 2016 & Município de Montemor-o-Velho, s/d).

Um século mais tarde, em 20 de junho de 1991, Tentúgal foi reelevada à categoria de vila (de acordo com a Lei nº 93/91, de 16 de agosto) (Município de Montemor-o-Velho, s/d).

Referências Bibliográficas:

Cunha, S. I. T. G. A. (2016). O Pastel de Tentúgal e a Confraria da Doçaria Conventual de Tentúgal: contributos para o estudo do Turismo de Culinária em Portugal (Tese de Mestrado, Departamento de Comunicação e Ciências Empresariais da Escola Superior de Educação de Coimbra). Disponível em: https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/14798

Góis, A. C. (2001). A vila de Tentúgal: “Memórias históricas”. Coimbra: Ediliber, Lda.

Monteiro, P. M. A. D. (2013). Projetar a memória: Convento do Carmo de Tentúgal (Tese de Mestrado, Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra). Disponível em: https://eg.uc.pt/handle/10316/24317

Município de Montemor-o-Velho (s/d). Tentúgal. Disponível em: https://cm-montemorvelho.pt/index.php/component/k2/item/31-tentugal

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