A existência de recursos provenientes dos sobejos das Confrarias de São Pedro e São Domingos, permitiu, pela mão de algumas das famílias mais abastadas da vila, criar, em Tentúgal, o dito Convento, com a fundação no ano de 1565.
Dada a natureza da origem deste convento, ou seja, tendo sido criado para receber jovens de várias proveniências, nomeadamente, as de famílias abastadas que, por viuvez ou falta de pretendente, precisavam de um amparo, a comunidade religiosa tinha, no seu seio, mulheres cujos gostos e práticas denotavam requinte e educação. Este nível cultural elevado teve influência, quer na organização do convento, quer na prática doceira do mesmo.
Na verdade, sabemos que a comunidade carmelita de Tentúgal tinha uma intensa atividade doceira que se avalia não só pelos registos dos Livros de Receitas e Despesas do Convento, onde se anotavam de forma rigorosa todas as entradas de matérias-primas (nomeadamente a farinha, açúcar, centeio,milho, arroz e o mel) e saídas de doces em ofertas, ou como forma de pagamento.
O pastel de Tentúgal é um produto de Indicação geográfica Protegida (IGP) concedida pela União Europeia em 2013. Teve a sua origem no Convento de Nossa Senhora do Carmo (também conhecido por Convento das Madres do Carmo), pelas mãos das Irmãs da Ordem das Carmelitas Calçadas, e foi fundado em 1565. Foi habitado pela ordem mencionada até 1898. Este doce inigualável serviu, durante séculos, não só como oferenda aos visitantes, mas também como pagamento de alguns préstimos de serviços, nomeadamente a concessão de remédios para as maleitas dos mais desfavorecidos, que iam ao convento buscar o conforto do estômago, acalmia das suas amarguras e, especialmente, a cura para muitas anemias.
A última freira a habitar o convento, D. Maximina do Loreto, ensinou o saber fazer dos pastéis às senhoras de Tentúgal, que foram transmitindo esse saber fazer de geração em geração. Diz-se até que os Pastéis de Tentúgal são o único doce que não é possível ensinar através de receituário, uma vez que só se aprendem a fazer… fazendo!
Existem várias referências que vêm confirmar que a reputação e notoriedade do pastel nascido no Convento do Carmo, nomeadamente José Saramago, que, numa das visitas que fez ao concelho de Montemor-o-Velho, deslocou-se a Tentúgal para assistir ao processo de confeção da delicada massa do pastel. Aqui, para além de apreciar a grandiosidade do património arquitetónico, José Saramago deliciou-se com o pastel de Tentúgal. Na sua obra “Viagem a Portugal” (1984), José Saramago escreve:
– Para Tentúgal não tem nada que errar. É ir direito pela estrada de Coimbra, há um desvio, está logo lá (…) confessa-se aqui um pecado de gula, para ver se tornam a saber-lhe tão bem os divinos pastéis que comeu encostado à Torre dos Sinos, fazendo da mão esquerda guardanapo para não perder migalha.
Segundo fontes escritas e orais, a tradição do fabrico do pastel de Tentúgal surge no Convento de Nossa Senhora do Carmo, na Vila de Tentúgal. Na verdade, havia a constatação de que
– A dita Vila tinha muita necessidade de hum moesteiro de freiras para nele agazalharem Orfaas, e filhas de homens fidalgos, e honrados, que não tinham possibilidade para as cazarem afim de nom ficarem dezemparadas (AUC, 1569-1592).
Sabemos que a comunidade carmelita tinha uma intensa atividade doceira que se avalia, quer através dos registos dos Livros de Receitas e Despesas do Convento, onde se anotavam todas as entradas de matérias-primas (farinha, açúcar, centeio, milho, etc.) e saídas de doces em ofertas, como também através da forma de pagamento.
A atestar a importância da cozinha, temos ainda a existência “trinta cazas de cozinha com seus altos e baixos”. No Convento, entravam algumas mulheres de alta condição social, que se faziam acompanhar de criadas e de um extenso enxoval onde, muitas vezes, se incluía um trem de cozinha. A existência desse número considerável de cozinhas revela a importância da atividade gastronómica dentro do Convento.